Por Guilherme de Moraes Alvarez
Eu tive um sonho muito ruim hoje. Não chegou a ser um pesadelo, mas eu acordei no meio e me senti muito mal. O conteúdo do sonho não é importante. Imagine o que quiser.
Não vou falar mais de meu sonho. Vou falar de medo, ignorância e depressão. Ser humano.
Eu tinha muito medo de ser medíocre. Eu sempre tive grande dificuldade para me concentrar. Tudo era tão imensamente interessante que uma única coisa raramente me prendia (leia aqui, por favor). Quando alguma coisa me prendia, raramente era útil. Isso marcou minha vida muito nos anos finais da adolescência (creio que ainda passo por eles), quando tive que tomar decisões e seguir rotas certas. Sob pressão eu funcionava ainda pior. Não vou explicar as entranhas de ter déficit de atenção. Muitas pessoas têm (cerca de 3% das pessoas). Ela me tornou criativo e de alguma forma eu virei uma pessoa paciente e amigável. Até meus 19 anos eu vivi muito bem sendo assim. Nunca tive problemas com a vida porque a vida não me exigiu além do que eu podia fazer com uma mão nas costas. Chegou o dia, porém, em que eu prometi que ia fazer o que eu sabia que ia ser muito difícil fazer. Eu achei que conseguiria. Não consegui. Não é difícil imaginar o que aconteceu em seguida.
Depois disso eu perdi tudo. Era inevitável. Cedo ou tarde eu ia decepcionar alguém e sofrer muito. Eu nunca devia ter envolvido quem eu amo no meu fracasso. Eu devia ter enfrentado meu fracasso antes. Por quê eu não fiz isso? Ótima pergunta. As entranhas da própria existência sempre são as mais misteriosas. Eu teorizo (em duas partes).
1. Minha dificuldade com fazer as coisas de modo não criativo e estudar tudo que é super chato tinha efeitos bem definidos que me atormentaram enormemente. Sempre que eu tentava estudar eu dormia profundamente. É tão absurdamente inevitável quanto ridículo. A sensação de impotência era tão grande que eu queria sentir dor. Eu tenho uma certa apreciação pela dor por isso mesmo. A dor traz concentração, atenção total. Eu sou viciado em atenção total. Eu gosto principalmente da dor que vem do esforço muito grande. Esta dor me esvazia a mente. Não pensar é tão bom quanto difícil. Acontece também uma coisa muito estranha comigo. Quando alguém me explica algo, geralmente apontando num desenho ou com gestos, interessante, eu sinto um frio no pescoço e fico hipnotizado. É ridículo. Eu sou meio ridículo. Demasiado irônico (hoje eu encontrei uma borracha que tinha perdido, logo depois de comprar uma nova). Acontece, entretanto, e eu não sei porque. Não sei também se já tentei explicar isso pra alguém. Acho que é uma coisa que acontece só comigo. Tenho certeza que tem relação com a minha dificuldade de concentração. No fim das contas toda a minha dificuldade em estudar me levou a uma grande depressão (comum com DDA's, eu descobri posteriormente) e um grande medo. Medo do fracasso eu tinha. Medo de fracassar pra sempre. Eu tinha medo de ser medíocre a vida inteira. Eu fui tão tolo.
2. Meu déficit de atenção foi muito mal combatido. O meu sucesso agora (sucesso tardio e inútil, já que, certa mágoa nunca desaparecendo, eu nunca vou me perdoar) é fruto da minha depressão (que tem relação com uma certa ruptura, mas muito mais com o sofrimento que eu causei, com a minha culpa). É tão irônico que eu tenho raiva. A depressão que eu sinto agora, uma vez que não é diretamente relacionada com o próprio déficit de atenção, diminuiu toda minha excitação com o mundo. As coisas que tão eficientemente me distraiam antes (estragando a minha vida), como o maravilhoso Age of Empires II, não me distraem mais (é isso mesmo, eu não consigo mais jogar Age). Eu agora posso me concentrar. É incrivelmente ridículo (nos moldes da minha existência) e me pergunto se o efeito é permanente, mesmo que a depressão passe e eu seja feliz. Eu imagino que sim. Grandes traumas mudam as pessoas certamente. Minha intelectualidade não está totalmente formada (isso só acontece por volta dos 25 anos quando a mielina termina de se depositar totalmente, tornando mudanças de comportamento muito mais difíceis). Sempre que minha atenção se desviar indevidamente para algo banal, no meio de uma coisa importante, o instinto formado do sofrimento vai me trazer de volta para os trilhos fazendo com que eu me desinteresse pela mesma, eu espero.
Naturalmente eu não tenho certeza disso. Encarando minha doença como exatamente o que ela é: uma doença, eu tenho que tomar atitudes mais enérgicas de tratamento. É o que eu vou fazer. Sempre tive medo de tratamento. Sempre tentei negar que eu precisava de tratamento. Estupidez total.
Outro grande problema é meu vício por atenção. Nas minhas experiências com o cubo de Rubik tenho notado que meu prazer não diminuiu, mas que minha culpa posterior é muito grande, como uma quebra de abstinência. Portanto permaneço viciado. Eu não sentia abstinência antes. Sempre vivi num estado constante de distração/divagação com ilhas de estímulo excessivo. Sempre foi muito difícil quebrar isso. Muitas vezes apenas a total culpa antecipada do evento danoso que adviria da minha desatenção me dava capacidade de concentração, e mesmo assim, no limiar do necessário. Após o perigo cessar eu voltava às divagações. Isso me preocupa. Pode ser que eu tenha crises me concentrando em coisas chatas, por conta do novo instinto (no caso de ele se formar), e fique inquieto em virtude do conflito. Levei muitos anos para controlar minha hiperatividade e não quero que ela retorne.
Desta forma eu fico com duas possibilidades: meu sofrimento de hoje me traumatizará de forma que meu déficit de atenção será reprimido, ou quando tudo isso acabar (se acabar) eu notarei minha renovada dificuldade de concentração e iniciarei (antes tarde do que nunca) um tratamento, e já vou aproveitar pra cuidar das hemorróidas.
3. [sua conclusão aqui]
Isso tudo não deve ser encarado como uma desculpa. Foi um erro gravíssimo eu ter pensado que venceria minhas dificuldades me pressionando para tal. Ainda pior foi eu ter me rendido a isso. No primeiro sinal de falha eu devia ter mudado de estratégia e saído de Rio Grande mesmo sem passar em concurso. Eu tive muito medo. Eu tinha medo de ser rejeitado caso tomasse esta atitude. Eu tinha medo de ser rejeitado e de continuar falhando infinitamente (muito medo). Eu tinha medo de passar fome nessa cidade estranha caso eu viesse sem concurso. Eu tinha medo de passar fome e virar uma coisa ridícula morando numa pocilga que não mereceria o respeito de quem eu amo, e assim ser abandonado. Ironicamente foi o que aconteceu. Eu não estou passando fome, pelo menos. Minha estupidez não tinha limites. Por favor, me perdoem todos.
É muito difícil transcrever estes pensamentos. Só o fiz porque preciso externar de alguma forma. Eu estava me corroendo.
Imploro aos leitores que comentem sobre o que teorizo. Você concorda? Espero que eu sirva de aviso para os que são como eu.
Para quem quer saber de mim, estou apaixonado. Todos sabem como é.
quarta-feira, 30 de abril de 2008
A Orígem das Espécies
terça-feira, 29 de abril de 2008
Cândido ou o Otimismo
Tenho pouco tempo para escrever no teclado duro da Lan House.
Para quem busca saber de mim. Estou deprimido. As razões são evidentes. Explanar-las-ei porque sei que o leitor gosta de uma adulação.
O jovem cometeu um erro absurdo e subestimou o sofrimento que estava causando para certo indivíduo de quem muito gostava. Depois de causado o sofrimento mudou de atitude em busca de desfazer o mesmo e melhorar sua vida. Chegando na capital deparou-se com a solidão. Como é forte a solidão! "E eu causei tudo isso, todo esse sofrimento minha pobre amiga passou", pensou o jovem. Em seguida deparou-se com a culpa. Gigante era culpa dele.
Agora ele espera. Errou por medo e ignorância. Isso foi muito estúpido. Agora só pode esperar.
Acabou o tempo aqui.
Eu espero.
sábado, 26 de abril de 2008
Humano, demasiado humano
Por Guilherme de Moraes Alvarez
Pois, bem!
Eu estava conversando com uma colega minha do tempo do ensino médio e colocamos o papo em dia sobre a atual fase de nossas vidas (e de quase todos os nossos colegas do ensino médio). A frase escolhida para o tema foi: 'crescer é complicado'.
Bobagem, diria alguém que eu conheço. Não importa. Pra mim é. A mãe natureza não nos preparou para crescer intelectualmente e prosperar no mercado de trabalho. A mãe natureza nos preparou (muito bem, até) para caçar, colher e procurar abrigo. Nós até nos adaptamos bem para plantar e guerrear, mas somos muito mal preparados para a vida moderna. Uma ironia gritante, já que criamos a vida moderna por livre vontade. O ser humano é irônico mesmo. Não podemos evitar, já que inventamos a ironia para descrever essas coisas que acontecem ao contrário para nós. De qualquer forma, não vejo como a vida dos outros seres incorpora a ironia. É como eu caracterizo o ser humano: ser irônico.
Também tem o sarcasmo. Eu não gosto do sarcasmo, já que ele é uma forma de expressar a intolerância. Até imagino que exista um sarcasmo benigno. O sarcasmo benigno eu entendo. O sarcasmo comum é que me dá calafrios.
Outras diferenças são que somos os únicos que não suportam o próprio cheiro. Não sei por que (porque, porquê, por quê). Eu mesmo não suporto. Isso é muito estranho. É o preço que a gente paga por ter linguagem, polegares opositores, raciocinar no futuro e ter internet.
A parte ruim é, claro, que criamos um mundo para poucos viverem. O resto sobrevive. É um mundo cruel, baita clichesão. Péssima distribuição de renda e tudo mais. Por isso que é complicado crescer. Até os dezoito anos é tudo muito longe. Depois que você se apaixona perdidamente e resolve morar sozinho na cidade grande é que tudo fica terrivelmente próximo. São vários problemas. A solidão é o mais complicado. O ser humano é chegado num ser humano. É preciso muita decepção e raiva e tudo mais para termos aversão a seres humanos. Então você está longe dos pais e dos amigos de infância e todos os momentos de distração ficam bem dolorosos. Falando assim não parece muito ruim. Falar é fácil.
Eu já subestimei a dor da solidão. Só para confirmar a minha natureza humana agora estou sentindo a mesma. E para ir mais adiante nesta confirmação eu mesmo causei a dita solidão. É tudo culpa minha.
A solidão, sim. O desemprego no Brasil, nem tanto.
Esse tipo de sofrimento tem um significado muito claro. É muito fácil deixar a felicidade escorrer pelos dedos. Já falei sobre isso. É muito fácil escolher a paranóia e a intolerância. É muito fácil magoar quem nos ama. Basta esquecer que somos diferentes. Basta pensar que só existe um certo, uma verdade, uma forma de viver. Meu conselho é simples. Mantenha um espaço. E pense bem antes de dizer uma besteira. É muito fácil dizer uma besteira. É só depois que a dizemos que entendemos como estávamos enganados.
Por isso que é complicado crescer (hah, eu já escrevi isso). Você tem que viver num mundo com regras malucas feitas pra te excluir e frustrar. Você tem que se proteger dos grandes acumuladores de capital e dos excluídos da sociedade. Você tem que conviver com pessoas que nem sempre são as que você gostaria. Você tem que saber quando está errado (isso muito difícil). Você se apaixona e tudo fica dez vezes mais complicado (e cem vezes mais gratificante). Você magoa quem você ama, uma vez que seja, mas se for um erro grande o suficiente você fica perdido. Tudo fica outras dez vezes mais complicado. Você corre atrás do seus próprios erros; e você se sente sozinho, ironicamente.
De vez em quando, para algumas pessoas, existe alguém que sabe tudo. Alguém para quem você revela cada fraqueza e cada sorriso infantil, para quem você é transparente. Quando esta pessoa lhe deixa, você perde um pedaço de si, como os gregos imaginavam. A sensação é exatamente esta. Na prática é isso mesmo. Vivemos num mundo lotado de máscaras e tratamentos diferenciados. Não temos a oportunidade de sermos puramente nós. Não revelamos nossa pureza, nosso sorriso infantil, para ninguém, exceto aquela pessoa especial . É doloroso quando essa pessoa se vai, porque perdemos a capacidade de sermos inocentes de novo naqueles momentos especiais. Passamos a ser nossas máscaras o tempo todo.
A solidão é isso. Imagino. Não ter com quem baixar a guarda, ser inocente. É parte de ser irônico. Só sabemos o valor do que tinhamos depois de perder. A boa notícia é que o amor é muito forte. Amar é em si gratificante.
É como diz aquela música (outra ironia, pois não gosto dela): 'agradeça se acaso tiver alguém que você gostaria que estivesse sempre com você'.
terça-feira, 15 de abril de 2008
O Príncipe
Por Guilherme de Moraes Alvarez
O que existe eu sei. O que não posso saber não me interessa.
Entretanto, você já se viu confiando perfeitamente no resultado futuro de algo que não depende completamente de você? Eu já. Já aconteceu comigo (quando eu passei no meu primeiro vestibular) e com mais pessoas que eu conheço. Particularmente com uma certa pessoa acontece o tempo todo.
O que significa isso? Neste post não tenho respostas. Tenho apenas mais perguntas.
Que tipo de influência nossa forma de pensar tem nos eventos?
Mais uma situação: você (homem) já esteve numa gigantesca seca até achar uma namorada. Quando você começa a namorar, muitas mais mulheres passam a desejá-lo. Isso é particularmente irritante, e incrível. Nossa sensação de segurança influenciando as acões alheias. Que tipo de mecanismo químico-físico provoca esta coisa é irrelevante. O importante é que acontece.
Faça este exercício e comente aqui no Crônicas: finja que tem uma namorada e vá em festas e tudo mais. Você tem que acreditar com toda sua consciência. Deve até se sentir culpado por se sentir atraído por outras mulheres (se isso lhe encomoda). Tenha certeza que você não está procurando nada. Se funcionar e se passar a chover no seu canteiro me avise.
Você pode tentar outras coisas similares. Tenho certeza que funciona, tanto por sua própria mudança de atitude (seus mecanismos internos respondendo aos seus pensamentos) quanto pela influência eletro-química nas pessoas à sua volta. Pense bem. Se é possível medir impulsos elétricos apenas com aparelhos na pele e emissões de hormônios à distância, que efeitos podemos causar nas pessoas apenas pensando?
Isso tudo e muito mais perguntas.
sexta-feira, 11 de abril de 2008
O que existe.
Por Guilherme de Moraes Alvarez
O mestre Yoda pode ser tão real quanto o Homem Aranha, mas eu acredito que ele vive, assim como Sócrates. Sócrates ninguém viu, nem retratou, nem nada mais. Conhecemos Sócrates apenas através de Platão. Que diferença faz isso? Nenhuma. Sócrates é tão real quanto a relevância das ideias ligadas a ele. Também é o mestre Yoda.
O mestre Yoda é um conjunto de correntes filosóficas condensados na forma que o seu autor (o desconhecido George Lucas) pensou que um ser nas condições do mestre Yoda teria acreditado. Quanto do mestre Yoda são as ideias do mestre Yoda? Tudo. Da mesma forma que as ideias de Sherlock Holmes não são de Sir Arthur Conan Doyle, e as ideias de Sócrates não são de Platão. Eu vejo o mestre Yoda como uma combinação ótima de aspectos do existencialismo, budismo (Jedi é uma espécie de budismo menos rigoroso), alguns aspectos de Platão (já que para ele havia a Força) e mais umas coisas. Guerra nas Estrelas em si é uma releitura de Dostoevsky (com uma pitada de Nietzsche).
Assim sendo, eu deixo reflexões do próprio mestre Yoda para pensar-mos (você vai ter que encarar minha tradução).
Cloud your mind doubt will. (essa não sei direito)
Enevoar sua mente a dúvida irá.
Try not. Do or do not, there is no try. (existencialismo)
Não tente. Faça ou não faça. Não há tentativas.
Always in motion is the future. (existencialismo)
Sempre em movimento está o futuro.
Size matters not. (existencialismo, e engraçado sem contexto)
Tamanho não importa.
When 900 years you reach, look as good, you will not. (essa também é engraçada)
Quando você tiver 900 anos, não parecerá melhor [que eu].
No! No different. Only different in your mind. You must unlearn what you have learned. (existencialismo)
Não! Não é diferente. Só é diferente na sua mente. Você deve desaprender o que você aprendeu.
You will find only what you bring in. (existencialismo)
Você só encontrará o que trouxer consigo.
Fear is the path to the Dark Side. Fear leads to anger, anger leads to hate; hate leads to suffering. (budismo)
Medo é o caminho para o lado negro. Medo leva à raiva, raiva leva ao ódio, ódio leva ao sofrimento.
Death is a natural part of life. Rejoice for those around you who transform into the Force. Mourn them do not. Miss them do not. Attachment leads to jealousy. The shadow of greed that is. Train yourself to let go of everything you fear to lose. (budismo)
A morte é uma parte natural da vida. Alegre-se por aqueles em tua volta que se transformam na Força (que retornam à natureza). Não chore sua partida. Não sinta sua falta. Possessão leva ao ciúme. A sombra da ganância isto é. Treine-se para se libertar de tudo que você teme perder.
The fear of loss is a path to the Dark Side. (budismo)
O medo da perda é um caminho para o lado negro.
Great warrior, hmm? Wars not make one great.
Grande guerreiro, hmn? Guerras não fazem ninguém grande.
Named must your fear be before banish it you can. (não tenho certeza)
Identificado deve ser seu medo antes de você poder bani-lo.
Luminous beings we are, not this crude matter. (budismo)
Seres luminosos nós somos, não esta matéria crua.
Tem mais, mas acho que esses já estão bons. É isso.
Ouça você mesmo(a).
quarta-feira, 9 de abril de 2008
Resposta
Por Guilherme de Moraes Alvarez
Se você pensa que o que eu falei no último post é um monte de banana amassada com chocolate (e um milhozinho inteiro), comente. Eu preciso de ideias, sempre. Isto não é um diário da minha vida, é um espaço para reflexão, pois a vida pode ser um pouco frustrante.
Por favor, comente.
terça-feira, 8 de abril de 2008
Esvaziar a Mente
Por Guilherme de Moraes Alvarez
Aprendi a resolver o cubo de Rubik (Rubik's Cube). É muito legal.
Por favor, comentem. Não vou crescer mais se ficar falando sozinho. Não precisa dizer quem é.
Esvaziar a mente não é fácil.
Eu estou passando por um momento difícil. Sei como é complicado fazer coisas do tipo esvaziar a mente. É necessário, entretanto.
Antes de falar no que eu pretendo falar vou falar sobre como me sinto agora.
Eu estou sofrendo. Quem lê o Crônicas já sabe. Quem lê o Crônicas também deve saber por quê. Mas não temam. Eu já conheço a solução (ou parte dela). Descobri através de uma pessoa que já entendia isso muito antes, embora não fosse expressar com estas palavras. Se esta pessoa ler talvez ela concorde comigo.
Estou sofrendo porque estou muito apegado a uma coisa material, um corpo no espaço. Eu preciso me libertar desta obsessão pela matéria. Claro que eu não vou esquecer o prazer que me proporciona(ou) esta matéria. Não vou deixar de usar a matéria. O intuito do desapego é saber que a matéria é secundária, complementar, que vem e vai. Quando a pessoa se liberta da matéria (por exemplo, um ciúme incontrolável de alguém, o que é bem comum), ela se torna apta a apreciá-la pelo que ela é: matéria; e apta a apreciar o que existe por trás desta matéria, o amor, o carinho, o conhecimento mútuo. Precisamos nos libertar da vontade doentia de possuir singularmente. Eu sempre soube disso. O sofrimento some a partir deste ponto e é substituído pelo puro prazer da matéria, sem obsessão, e do que estiver por trás dela.
Pois, bem. Como apreciar uma coisa (ou pessoas) pelo que ela proporciona de felicidade se qualquer desvio (como gostar de uma música que me incomoda, no caso das pessoas) mancha esta felicidade? Seria a felicidade dependente de acontecimentos (ou ausência deles) que não interferem na relação com a coisa? Eu penso que não. O amor está além da matéria (dãa). O que acontece com a matéria que não modifica as propriedades da mesma é totalmente (sim, totalmente) irrelevante. A mesma coisa para coisas. Um chinelo não deixa de ser o meu chinelo favorito se alguém o usar em algum momento (desde que não deforme ;) ). Uma pessoa que me ama não deixa de me amar pelo que ela faz ou deixa de fazer, como se divertir com outras pessoas. Uma pessoa que me ama não deixa de me proporcionar prazer por ter proporcionado prazer para mais alguém. É difícil de aceitar, mas eu penso que o problema é mais cultural do que instintivo.
Pensando friamente sobre o problema, ele desaparece. Já parou para pensar que alguém que adora a sua comida comeu em um ótimo restaurante, não deixou de adorar a sua comida? A recíproca também: se você cozinha para outras pessoas, sua comida deixa de ser especial para aquela pessoa? Se alguém se diverte com outras pessoas em um determinado tempo ou ocasião, deixa de ter o que compartilhar com você? Você deixa de ter o que compartilhar com esta pessoa?
Parece evidente que não, mas os seres humanos de hoje jogam fora sua felicidade o tempo todo porque não conseguem se desapegar, porque são obsessivas.
Como deixar de ser, então? Como esquecer a obsessão? Simples.
A melhor maneira de descobrir e sentir o prazer puro, sem a obsessão, é experimentar a liberdade. Se você adora muito seu chinelo preferido e não deixa ele calçar outro pé, use outro chinelo, e veja como aquilo não é importante. Perceba como seu chinelo não deixou de servir no seu pé porque você calçou outro. Note como seu caderno de aula não é sua única fonte de conhecimento. Veja como suas roupas não são as únicas que lhe servem. Sinta como quem você ama não é a única pessoa que pode lhe proporcionar prazer. O envolvimento é único e proporciona o maior prazer, sim, como o caderno proporciona o melhor conhecimento, mas não significa monopólio.
Se você se sente muito mal porque alguém se diverte com outras pessoas, tente se divertir da mesma forma. Veja como isso não muda a relação entre você e este alguém.
Quando uma pessoa reconhece que a matéria não faz distinção é que se liberta da mesma. Se libertar do chinelo não é andar de pés descalços, é usar outros chinelos, e aceitar que usem o seu próprio. É saber que o chinelo vai continuar lhe servindo, não importa o que aconteça. Desta forma amar é para sempre, possuir é momentâneo. Não se deixa de possuir, pois é o propósito da matéria, mas deve-se aceitar que outros também possuam, assim como que se possua outras.
Acho que vou deixar os instintos pra outro post.
A outra parte é decisão. Decidir o que se é (a essência vem depois da existência). Para entender que a matéria é apenas matéria, e abandonar a obsessão, não há fator externo. Tão pouco se trata de algo imutável. A sabedoria vem da própria decisão, a decisão de parar de sofrer (pelo que é material). Quem não se liberta da matéria, da obsessão, estará sempre sofrendo. Dia e noite a possibilidade de perder o material vai causar sofrimento. Decidir é o passo mais importante. Descobrir o resto é consequência natural.
Parece que eu tive que sofrer muito para aprender isto, apesar de saber o tempo todo (saber e entender são coisas bem diferentes, infelizmente). Muito sofrimento causei com minha ignorância, além de outras coisas. Entender o que eu entendo agora me traz alguma paz, afinal. Não vou mais machucar quem eu amo.
Estou mais tranquilo.
Ainda assim, o sofrimento pela perda do que eu desperdicei continua, pois não mais possuo nem a matéria nem o carinho, nem o afeto, etc. Sofro com serenidade. Mas agora eu possuo outra coisa que me impulsiona na ausência da felicidade que abandonei, outra forma de amar e ser livre, outra forma de apreciar que a matéria se compartilha, e de buscar minha felicidade de novo. Agora que eu entendo, depois de muito ter perdido, a certeza de que o amor não some, possuo algo novo, pela primeira vez: esperança.
sábado, 5 de abril de 2008
Atualização
Quer saber como eu me sinto?
Uma merda.
Estou fazendo o que eu decidi que é certo, mas ninguém acredita. Tudo vai dar certo, mas até lá eu estou sendo inconsequente. Eu planejei tudo. Eu pensei em cada consequência. Eu quero fazer o que eu estou fazendo. Só assim eu vou crescer. E só depois disso eu vou ser feliz.
O Patrick disse: "Não fica te deprimindo que isso não ajuda. Faz o que tens que fazer."
Exatamente!
A causa nº 3
Por Guilherme de Moraes Alvarez
Pois, bem!
Outro post eu falei sobre as causas do sofrimento humano. Também disse que falaria mais sobre elas. Pois hoje é o dia.
Aconteceu numa conversa com uma pessoa domingo passado. Estávamos divagando sobre relacionamentos íntimos e eu tive uma epifania (também conhecido como 'insight').
As pessoas sofrem porque são diferentes. Estamos o tempo todo esperando que as pessoas ajam como nós agiríamos, ou nem isso, se formos hipócritas. Nos decepcionamos muito com todos. Esquecemos que não somos perfeitos, que o que pensamos que é certo só funciona para nós, e que não existe certo. Se dois povos estão em guerra disputando a última reserva de água no mundo, quem está certo, quem merece vencer? Poucas vezes lembramos disso. Muitos não sabem. E qual seria a consequência se todos soubessem? Se ninguém pensasse que existe certo absoluto o que ocorreria com a sociedade? Caos? Eu acredito que não.
O que nos faz agir nas relações não pessoais (aquelas que temos com pessoas desconhecidas) com responsabilidade é a necessidade de reciprocidade. Daí retiramos a ideia de certo e errado no nível impessoal. É errado queimar a banca de revistas. Na verdade (e verdade também não existe, mas isso é só uma expressão), não é certo nem errado. Queimar a banca de revistas é auto-destrutivo, por isso que ninguém faz. Cedo ou tarde teremos retribuição por ações que deliberadamente prejudiquem as pessoas. É desta forma que mantemos uma sociedade civilizada (ou tentamos). Quando você queima a banca de revistas, toda a sociedade se sente lesada e insegura. A sociedade cuida de neutralizar você (ou, novamente, tenta) em retribuição.
Isso funciona quase sempre para as relações não pessoais (existem excessões), mas falha vergonhosamente nas relações pessoais.
Quando as pessoas se relacionam de qualquer forma elas criam expectativas mútuas, esperando que um faça o que o outro pensa que é certo. Quanto mais proximidade, mais expectativa, e mais detalhadamente temos que fazer o certo.
Eventualmente erramos (na concepção do outro), e isso magoa as pessoas. Acontece o tempo todo, e destrói as relações. Também é assim com as ideias e opiniões. Ninguém compartilha todos os gostos e opiniões com outra pessoa. Estamos sempre em desacordo. Pode ser seu irmão gêmeo, não importa. As pessoas podem ficar décadas se machucando porque querem que os outros ajam e pensem segundo seus valores.
É um grande problema. Nunca impediu as pessoas de tentarem, mas creio que muitas são infelizes nessas condições. Além disso, as outras causas de sofrimento são agravantes desta. Quando uma pessoa não consegue sucesso profissional adequado sua companheira muitas vezes o abandona por esperar que a pessoa faça as coisas de forma diferente. Depois disso tudo pode virar uma bola de neve. O sofrimento gerado pelo desemprego alimentando o sofrimento pelo desentendimento que gera a separação que traz ainda mais sofrimento. Não sei porque as taxas de suicídio não são maiores.
O primeiro passo que enxergo para superar este sofrimento é valorizar as pessoas. Esperar delas o que elas já lhe proporcionaram de prazer, e ajudá-las a superar suas dificuldades, ao invés de julgá-las inapropriadas. Este passo no amadurecimento pessoal é muito importante. Ninguém, nunca, será igual a você. Aprenda a discordar com respeito e apreciar as qualidades. Claro que não devemos forçar a convivência com pessoas irritantes, mas tão pouco devemos deixar uma pessoa agradável de lado porque ela vota no PMDB.
O segundo passo que vejo é, paradoxalmente, reservar certa distância das pessoas, intelectualmente. Conversar todos os dias com a mesma pessoa sobre concepções filosóficas pode ser muito frustrante. Note-se que os melhores relacionamentos são com as pessoas com quem conversamos mais besteira do que coisas sérias, geralmente nossos melhores amigos. Existe entre namorados, noivos, maridos e mulheres, etc, uma determinada resistência às ideias e hábitos um do outro, a chamada birra. A birra é muito fácil de se instalar. Ela ocorre porque estamos o tempo inteiro analisando a pessoa. Cada pequena diferença se torna uma resistência. Depois de certo tempo as pessoas estão brigando mais do que não brigando. Para evitar a birra devemos esquecer o que pensamos que é certo nos mínimos detalhes e passar a apreciar as qualidades da pessoa (que são muitas, sempre). Devemos nos concentrar nas boas experiências. Não é tão difícil.
Dito isto, fica uma pergunta. Por que analisamos excessivamente a pessoa que desejamos do nosso lado para o futuro? Eu só consigo pensar em uma resposta: seleção natural. É incrível como nossos instintos fazem parte de nossa vida e como sofremos porque eles estão desatualizados. Já escrevi sobre isso. Analisar o companheiro é um dos instintos mais fortes que existe (ou seria existem?). Foi muito importante para nossa evolução. Hoje não é mais. O ser humano não respeita mais as regras de seleção natural, pois não está interessado unicamente na melhor prole. Estamos interessados na nossa própria felicidade. Muitos de nós sequer desejam se reproduzir. Para ser feliz, alguns instintos têm que ser suprimidos. Não precisamos mais do melhor espécime para reprodução. Precisamos da pessoa que nos faz mais feliz, ou nenhuma pessoa, se preferirmos.
O sofrimento é inexorável, mas não significa que devemos fugir. Muitas vezes podemos enfrentar o sofrimento, com sensibilidade e criatividade. Muitas vezes podemos ser felizes.
quarta-feira, 2 de abril de 2008
Frustração
Por Guilherme de Moraes Alvarez
Já se frustrou hoje?
Acho que a vida não era tão complicada nos primórdios. Na Mesopotâmia, por exemplo, as pessoas ganhavam terras do Estado para cultivar, davam um pouco da produção para a administração e o resto ficava pra si. As leis eram um tanto severas e se descobrissem que você operou falcatruas te arrancavam alguma coisa do corpo (adultério era super perigoso), mas no geral não era uma vida difícil. Só não tinha internet.
Hoje você tem que passar por um bocado de incomodação apenas para viver. Para arruinar sua vida basta esperar. As frustrações são muito maiores.
Os mamíferos todos têm, acredito eu, um senso de frustração. Nós, humanos que pensam que pensam (homo sapiens sapiens), vivemos pensando nisso, mas acho que todos se frustram.
As formigas eu imagino que não. Os guepardos, sim.
O que torna a frustração humana tão especial? Boa pergunta. Eu teorizo (habitualmente).
A nossa frustração é especial porque nós cultivamos formas de frustrar uns aos outros. É isso. Os guepardos não frustram outros guepardos. Os cervos e os búfalos frustram os guepardos. As secas frustram os búfalos e os cervos. De vez em quando uma fêmea rejeita um macho, mas sem ressentimentos, não é pessoal. Isso acontece conosco também. Somente os humanos, entretanto, possuem sistemas desenhados para frustrar as pessoas como efeito colateral (ou até como objetivo).
Perdi a vontade de escrever. Depois eu continuo.
terça-feira, 1 de abril de 2008
Em frente (conteúdo moderadamente pessoal)
Por Guilherme de Moraes Alvarez
Pois bem, estou seguindo em frente. Já tenho emprego aqui em Porto Alegre. Não sei se vai funcionar ou se vou ter que retornar para Rio Grande, mas naturalmente estou me dedicando para que não volte.
A má notícia é que muita coisa passou e eu perdi oportunidades. Não sei até que ponto eu cresci com isso ou se valeu o sofrimento. E é um bocado de sofrimento (como aquele refrão do Deep Purple da música Never Before).
Não sei. O que eu não posso saber não me interessa.
Pra quem pergunta por que estou fazendo isso (note o uso possivelmente errado do 'por que') eu respondo. Mande um e-mail para moraes.alvarez@gmail.com com a seguinte frase: Guilherme, por que estás fazendo isso?. Aguarde confirmação do recebimento. Você pode ganhar muitos prêmios.
Adiantando para quem não achou graça da piada acima eu explico (estou benevolente hoje). Estou fazendo isso porque eu sou eu. Se eu fosse uma de diversas pessoas diferentes eu não estaria fazendo isso. Já que eu não quero viver com a derrota até o fim dos meus dias eu faço isso (não que estas pessoas quisessem, é que eu me sinto num patamar de auto-conhecimento avançado e tenho convicção do que vai me fazer feliz).
Se você não gostou envie suas sugestões para moraes.alvarez@gmail.com ou deixe comentário no blog. Nossa equipe estará examinando seu recado e estaremos implementando as novas idéias de acordo com a necessidade da administração.
Quanto à filosofia? Quem se importa? Eu! Então já é suficiente.
Meu livro começa semana que vem. Quem estiver interessado nos primeiros capítulos para avaliação pode me pedir, mediante compromisso (um fio do bigode) de não roubar minha obra.
Quem mora em Porto Alegre e quiser plano de saúde espere até segunda e me avise.
Quem não quiser que se esfole.
Por fim; estou com uns pensamentos aqui, mas não estão bem formulados ainda. Postar-los-ei em breve.