quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Aquela estória de instintos

Por Guilherme de Moraes Alvarez

Muito bem. Noto ao escrever aqui que o programa do blogspot demora um pouco a responder quando eu digito (meu processador está em 766 MHz, um pentium 4). Talvez seja uma lentidão do próprio Firefox, ou o pentium 4 simplesmente seja um lixo nessa frequência (mas eu economizo um bocado de energia assim). De qualquer forma, não importa. Andei pensando.

Faz um tempinho que eu escrevi sobre o conflito entre ações instintivas e planejamento racional. Naquela época eu estava realmente envolvido com o problema. Talvez minha avaliação tenha sido um tanto emocional (incrível, não é mesmo?). Agora eu tenho uma avaliação mais racional (que é a melhor coisa de ter uma razão).

Mas eu não ando com vontade de escrever agora. Mais tarde eu termino.

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Distorção

Por Guilherme de Moraes Alvarez

Hoje compreendi que não posso mais viver.

É isso mesmo. Claro que vou continuar vivendo, mas será uma ilegalidade.
Eu explico (dá pra notar a estratégia literária aqui?).

Há um tempo que eu entrei no esquema supremo da vida humana: impressionar as fêmeas. Eu assistia os documentários do cara bigodudo no discovery e não podia acreditar que ele estivesse sendo sensato sobre os resultados de sua pesquisa (é, parece que o cara pesquisou isso). Entretanto, é assim mesmo. Os machos estão o tempo todo tentando impressionar as fêmeas entre as refeições. os que não conseguem de alguma forma acabam desistindo e estendendo suas refeições pra preencher o vazio.

Eu entrei nessa. Confesso que não gosto. Sinto-me controlado o tempo todo. É uma sensação muito estranha mesmo. Me pergunto (ou pergunto-me) se não deveria simplesmente esquecer isso e me concentrar na tecnologia (ou nas refeições que preenchem o vazio da minha vida [que dramático!]). Na maior parte do tempo eu acho que não (fora o intervalo curtíssimo [a mãe natureza errou nessa] entre a satisfação e a vontade de repetir).

A questão toda é que agora que eu entrei nessa eu cometi outro erro: acho as fêmeas exigentes. O erro em si não reside nas fêmeas, mas em mim (eu sou o macho, vivo me dizendo isso; vai que eu esqueço). Eu era perfeito. Inteligente (menos do que eu penso que sou, como sempre); bonito (mais do que eu acredito, o que é bom); moderadamente atraente (suficientemente não-repulsivo); sem um puto furado no bolso, mas não fez diferença (genial); e autêntico (não sei o que é isso, mas acho que significa engraçado). Agora eu não sou mais. Das minhas qualidades originais sobraram apenas a inteligência e, quem sabe, a autenticidade (tem um selo na minha bunda que eu acho que serve pra comprovar) e eu fiquei sem fêmeas. Assim não dá pra viver.

Como isso aconteceu? Boa pergunta.

Teoria 1

Eu fiquei tão absurdamente preocupado em agradar as fêmeas (e com fêmeas eu quero dizer fêmea) que esqueci de ser eu mesmo (a cagada clássica).

Em detalhes isso significa que eu quis aprender todas as filosofias e saber todos algoritmo e tinha ciumes do Nietzche e do Dostoievski, porque eles parecem mais inteligentes que eu. Não preciso dizer aonde deu isso tudo.

Teoria 2

Eu fiquei gordo e agora as fêmeas me acham repulsivo.

Teoria 3

[sua teoria aqui]

O que eu vou fazer agora? Cheia de boas perguntas a vida é.

Relaxar seria a primeira coisa. Somente a mente despreocupada pensa com propriedade. Preciso, naturalmente, descobrir como relaxar. Em seguida eu poderia esquecer os grandes filósofos e reconhecer que eles são todos mais legais que eu (e o Felipe também deve ser). Depois vêm os grandes autores da literatura. Eles também são todos mais legais que eu (acho que porque eles foram mais longe nesse lance de impressionar as fêmeas; grandes livros impressionam pra caralho). Aí então eu posso ler todos e entender por que todo mundo gosta deles (mas desta vez em paz e relaxado). Por fim, eu emagreço e volto a ser inteligente, bonito, atraente, autêntico, e quem sabe eu fico rico (o que não ia machucar minha imagem).

É isso. No fim das contas tudo que eu precisava era um bom tapa na cara e parar e me acalmar. Lembrando as palavras sábias do mestre Yoda:

"Enevoar sua mente, a dúvida irá." E...

"Quando estiveres calmo, em paz, saberás o que fazer."


Ajudem as tartarugas.

(palavras que o blogspot não reconheceu na verificação ortográfica: blogspot, bigodudo, discovery, puto, bunda, Nietzche, Felipe, caralho, Yoda; o Dostoievski foi reconhecido, veja você)

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Finalmente, literatura

Por Guilherme de Moraes Alvarez

Aquele negócio de postar uma vez por semana não deu certo; exatamente como uma amiga minha previu.

Ela sempre (geralmente) prevê que as coisas não vão funcionar. Eventualmente ela acerta.

Entretanto o Crônicas não está morto. E vou continuar tentando postar uma vez por semana.

Agora ao que interessa (tem uma questão intrigante no fim).

Você já passou pelos seminários de literatura no 2º grau? Eu passei. A gente tinha que ler o livro e depois descrevê-lo e discuti-lo em aula. Eram vários livros de cada vez. Eu li vários. O que me marcou foi Quincas Borba (se você não conhece Quincas Borba, não vai passar no vestibular, google nele).

No seminário do Realismo, eu era o único maluco que leu Quincas Borba. Todo mundo foi de alienista e dom casmurro, com um eventual Raul Pompéia e Brás Cubas pelas beiradas. Péssima ideia. Tive pouco tempo pra ler e não fui até a última página. Não entendi porcaria nenhuma.

Eu achei meio patético o Rubião se apaixonar pela mulher do sócio. Tudo bem. Mas não saquei que ele estava ficando sem dinheiro e louco. Um desastre.

Minha professora de literatura pensou que eu tinha lido um resumo. Antes tivesse. Ainda bem que esses tempos se foram. Bem, na verdade não (como o Paul Simon no clipe que ele tava de preto).

Outro dia eu li Nietzsche. Assim falou Zaratustra. O clássico. Não li todo ainda. Estava conversando sobre qualquer coisa e meu interlocutor disse que estava em declínio. Eu então comentei a passagem em que Zaratustra diz que o declínio é o caminho para o super-homem. Então tal interlocutor diz: "não, isso não tem nada haver". E em seguida expressou decepção com a minha capacidade de interpretar o grande filósofo. Meu comentário foi tão infeliz que meu interlocutor não quis nem me explicar a interpretação correta.

Pois é!

Que direito tem alguma interpretação de qualquer literatura ou filosofia de ser mais correta que outra? Nenhum, respondendo a pergunta retórica. Por quê (esses múltiplos por quês deviam ser abolidos da língua) a interpretação dos professores de literatura (seja lá de quem que eles tenham a aprendido) é mais correta que a minha, ou do que a de qualquer aluno? Porque eles estudaram a coisa a fundo? Não me venham com essa. Um livro é um livro. No instante em que a vida do autor (ou outros livros, ou qualquer coisa) é levada em consideração na interpretação da obra, ela está maculada. Talvez as interpretações dos jovens inexperientes que leram Quincas Borba na excursão da escola estejam mais corretas que as dos estudiosos da literatura.

Igual, eu me sinto meio envergonhado de não entender Nietzsche ou Quincas Borba como meu interlocutor daquela conversa ou o professor Maioral da universidade.

Vai ver eu não sou tão esperto.