quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Finalmente, literatura

Por Guilherme de Moraes Alvarez

Aquele negócio de postar uma vez por semana não deu certo; exatamente como uma amiga minha previu.

Ela sempre (geralmente) prevê que as coisas não vão funcionar. Eventualmente ela acerta.

Entretanto o Crônicas não está morto. E vou continuar tentando postar uma vez por semana.

Agora ao que interessa (tem uma questão intrigante no fim).

Você já passou pelos seminários de literatura no 2º grau? Eu passei. A gente tinha que ler o livro e depois descrevê-lo e discuti-lo em aula. Eram vários livros de cada vez. Eu li vários. O que me marcou foi Quincas Borba (se você não conhece Quincas Borba, não vai passar no vestibular, google nele).

No seminário do Realismo, eu era o único maluco que leu Quincas Borba. Todo mundo foi de alienista e dom casmurro, com um eventual Raul Pompéia e Brás Cubas pelas beiradas. Péssima ideia. Tive pouco tempo pra ler e não fui até a última página. Não entendi porcaria nenhuma.

Eu achei meio patético o Rubião se apaixonar pela mulher do sócio. Tudo bem. Mas não saquei que ele estava ficando sem dinheiro e louco. Um desastre.

Minha professora de literatura pensou que eu tinha lido um resumo. Antes tivesse. Ainda bem que esses tempos se foram. Bem, na verdade não (como o Paul Simon no clipe que ele tava de preto).

Outro dia eu li Nietzsche. Assim falou Zaratustra. O clássico. Não li todo ainda. Estava conversando sobre qualquer coisa e meu interlocutor disse que estava em declínio. Eu então comentei a passagem em que Zaratustra diz que o declínio é o caminho para o super-homem. Então tal interlocutor diz: "não, isso não tem nada haver". E em seguida expressou decepção com a minha capacidade de interpretar o grande filósofo. Meu comentário foi tão infeliz que meu interlocutor não quis nem me explicar a interpretação correta.

Pois é!

Que direito tem alguma interpretação de qualquer literatura ou filosofia de ser mais correta que outra? Nenhum, respondendo a pergunta retórica. Por quê (esses múltiplos por quês deviam ser abolidos da língua) a interpretação dos professores de literatura (seja lá de quem que eles tenham a aprendido) é mais correta que a minha, ou do que a de qualquer aluno? Porque eles estudaram a coisa a fundo? Não me venham com essa. Um livro é um livro. No instante em que a vida do autor (ou outros livros, ou qualquer coisa) é levada em consideração na interpretação da obra, ela está maculada. Talvez as interpretações dos jovens inexperientes que leram Quincas Borba na excursão da escola estejam mais corretas que as dos estudiosos da literatura.

Igual, eu me sinto meio envergonhado de não entender Nietzsche ou Quincas Borba como meu interlocutor daquela conversa ou o professor Maioral da universidade.

Vai ver eu não sou tão esperto.

Um comentário:

@efebete disse...

odeio gente prepotente