sábado, 26 de abril de 2008

Humano, demasiado humano

Por Guilherme de Moraes Alvarez

Pois, bem!

Eu estava conversando com uma colega minha do tempo do ensino médio e colocamos o papo em dia sobre a atual fase de nossas vidas (e de quase todos os nossos colegas do ensino médio). A frase escolhida para o tema foi: 'crescer é complicado'.

Bobagem, diria alguém que eu conheço. Não importa. Pra mim é. A mãe natureza não nos preparou para crescer intelectualmente e prosperar no mercado de trabalho. A mãe natureza nos preparou (muito bem, até) para caçar, colher e procurar abrigo. Nós até nos adaptamos bem para plantar e guerrear, mas somos muito mal preparados para a vida moderna. Uma ironia gritante, já que criamos a vida moderna por livre vontade. O ser humano é irônico mesmo. Não podemos evitar, já que inventamos a ironia para descrever essas coisas que acontecem ao contrário para nós. De qualquer forma, não vejo como a vida dos outros seres incorpora a ironia. É como eu caracterizo o ser humano: ser irônico.

Também tem o sarcasmo. Eu não gosto do sarcasmo, já que ele é uma forma de expressar a intolerância. Até imagino que exista um sarcasmo benigno. O sarcasmo benigno eu entendo. O sarcasmo comum é que me dá calafrios.

Outras diferenças são que somos os únicos que não suportam o próprio cheiro. Não sei por que (porque, porquê, por quê). Eu mesmo não suporto. Isso é muito estranho. É o preço que a gente paga por ter linguagem, polegares opositores, raciocinar no futuro e ter internet.

A parte ruim é, claro, que criamos um mundo para poucos viverem. O resto sobrevive. É um mundo cruel, baita clichesão. Péssima distribuição de renda e tudo mais. Por isso que é complicado crescer. Até os dezoito anos é tudo muito longe. Depois que você se apaixona perdidamente e resolve morar sozinho na cidade grande é que tudo fica terrivelmente próximo. São vários problemas. A solidão é o mais complicado. O ser humano é chegado num ser humano. É preciso muita decepção e raiva e tudo mais para termos aversão a seres humanos. Então você está longe dos pais e dos amigos de infância e todos os momentos de distração ficam bem dolorosos. Falando assim não parece muito ruim. Falar é fácil.

Eu já subestimei a dor da solidão. Só para confirmar a minha natureza humana agora estou sentindo a mesma. E para ir mais adiante nesta confirmação eu mesmo causei a dita solidão. É tudo culpa minha.

A solidão, sim. O desemprego no Brasil, nem tanto.

Esse tipo de sofrimento tem um significado muito claro. É muito fácil deixar a felicidade escorrer pelos dedos. Já falei sobre isso. É muito fácil escolher a paranóia e a intolerância. É muito fácil magoar quem nos ama. Basta esquecer que somos diferentes. Basta pensar que só existe um certo, uma verdade, uma forma de viver. Meu conselho é simples. Mantenha um espaço. E pense bem antes de dizer uma besteira. É muito fácil dizer uma besteira. É só depois que a dizemos que entendemos como estávamos enganados.

Por isso que é complicado crescer (hah, eu já escrevi isso). Você tem que viver num mundo com regras malucas feitas pra te excluir e frustrar. Você tem que se proteger dos grandes acumuladores de capital e dos excluídos da sociedade. Você tem que conviver com pessoas que nem sempre são as que você gostaria. Você tem que saber quando está errado (isso muito difícil). Você se apaixona e tudo fica dez vezes mais complicado (e cem vezes mais gratificante). Você magoa quem você ama, uma vez que seja, mas se for um erro grande o suficiente você fica perdido. Tudo fica outras dez vezes mais complicado. Você corre atrás do seus próprios erros; e você se sente sozinho, ironicamente.

De vez em quando, para algumas pessoas, existe alguém que sabe tudo. Alguém para quem você revela cada fraqueza e cada sorriso infantil, para quem você é transparente. Quando esta pessoa lhe deixa, você perde um pedaço de si, como os gregos imaginavam. A sensação é exatamente esta. Na prática é isso mesmo. Vivemos num mundo lotado de máscaras e tratamentos diferenciados. Não temos a oportunidade de sermos puramente nós. Não revelamos nossa pureza, nosso sorriso infantil, para ninguém, exceto aquela pessoa especial . É doloroso quando essa pessoa se vai, porque perdemos a capacidade de sermos inocentes de novo naqueles momentos especiais. Passamos a ser nossas máscaras o tempo todo.

A solidão é isso. Imagino. Não ter com quem baixar a guarda, ser inocente. É parte de ser irônico. Só sabemos o valor do que tinhamos depois de perder. A boa notícia é que o amor é muito forte. Amar é em si gratificante.

É como diz aquela música (outra ironia, pois não gosto dela): 'agradeça se acaso tiver alguém que você gostaria que estivesse sempre com você'.

3 comentários:

@efebete disse...

é impossível ser feliz sozinho

Laura de Marco disse...

ninguém vai sabe a dor que a gente sente, até que se veja na mesma situação. mas eu não desejo isso pra ninguém! eu só desejo que isso passe...

Léli disse...

É... crescer não é nada fácil, sei que tu já disse isso e eu também, mas a cada dia me pego pensando nisso e nas máscaras que temos que "vestir" para se proteger.
Mas, afinal, para quê isso tudo?? Para quê estamos aqui?? Sozinhos ou não. Eis mais um questinamento dessa vida difícil de virar gente grande.

Ah, não esquece, nunca estamos sozinhos!! Essa é a verdade...