terça-feira, 8 de abril de 2008

Esvaziar a Mente

Por Guilherme de Moraes Alvarez

Aprendi a resolver o cubo de Rubik (Rubik's Cube). É muito legal.

Por favor, comentem. Não vou crescer mais se ficar falando sozinho. Não precisa dizer quem é.

Esvaziar a mente não é fácil.

Eu estou passando por um momento difícil. Sei como é complicado fazer coisas do tipo esvaziar a mente. É necessário, entretanto.

Antes de falar no que eu pretendo falar vou falar sobre como me sinto agora.

Eu estou sofrendo. Quem lê o Crônicas já sabe. Quem lê o Crônicas também deve saber por quê. Mas não temam. Eu já conheço a solução (ou parte dela). Descobri através de uma pessoa que já entendia isso muito antes, embora não fosse expressar com estas palavras. Se esta pessoa ler talvez ela concorde comigo.

Estou sofrendo porque estou muito apegado a uma coisa material, um corpo no espaço. Eu preciso me libertar desta obsessão pela matéria. Claro que eu não vou esquecer o prazer que me proporciona(ou) esta matéria. Não vou deixar de usar a matéria. O intuito do desapego é saber que a matéria é secundária, complementar, que vem e vai. Quando a pessoa se liberta da matéria (por exemplo, um ciúme incontrolável de alguém, o que é bem comum), ela se torna apta a apreciá-la pelo que ela é: matéria; e apta a apreciar o que existe por trás desta matéria, o amor, o carinho, o conhecimento mútuo. Precisamos nos libertar da vontade doentia de possuir singularmente. Eu sempre soube disso. O sofrimento some a partir deste ponto e é substituído pelo puro prazer da matéria, sem obsessão, e do que estiver por trás dela.

Pois, bem. Como apreciar uma coisa (ou pessoas) pelo que ela proporciona de felicidade se qualquer desvio (como gostar de uma música que me incomoda, no caso das pessoas) mancha esta felicidade? Seria a felicidade dependente de acontecimentos (ou ausência deles) que não interferem na relação com a coisa? Eu penso que não. O amor está além da matéria (dãa). O que acontece com a matéria que não modifica as propriedades da mesma é totalmente (sim, totalmente) irrelevante. A mesma coisa para coisas. Um chinelo não deixa de ser o meu chinelo favorito se alguém o usar em algum momento (desde que não deforme ;) ). Uma pessoa que me ama não deixa de me amar pelo que ela faz ou deixa de fazer, como se divertir com outras pessoas. Uma pessoa que me ama não deixa de me proporcionar prazer por ter proporcionado prazer para mais alguém. É difícil de aceitar, mas eu penso que o problema é mais cultural do que instintivo.

Pensando friamente sobre o problema, ele desaparece. Já parou para pensar que alguém que adora a sua comida comeu em um ótimo restaurante, não deixou de adorar a sua comida? A recíproca também: se você cozinha para outras pessoas, sua comida deixa de ser especial para aquela pessoa? Se alguém se diverte com outras pessoas em um determinado tempo ou ocasião, deixa de ter o que compartilhar com você? Você deixa de ter o que compartilhar com esta pessoa?

Parece evidente que não, mas os seres humanos de hoje jogam fora sua felicidade o tempo todo porque não conseguem se desapegar, porque são obsessivas.

Como deixar de ser, então? Como esquecer a obsessão? Simples.

A melhor maneira de descobrir e sentir o prazer puro, sem a obsessão, é experimentar a liberdade. Se você adora muito seu chinelo preferido e não deixa ele calçar outro pé, use outro chinelo, e veja como aquilo não é importante. Perceba como seu chinelo não deixou de servir no seu pé porque você calçou outro. Note como seu caderno de aula não é sua única fonte de conhecimento. Veja como suas roupas não são as únicas que lhe servem. Sinta como quem você ama não é a única pessoa que pode lhe proporcionar prazer. O envolvimento é único e proporciona o maior prazer, sim, como o caderno proporciona o melhor conhecimento, mas não significa monopólio.

Se você se sente muito mal porque alguém se diverte com outras pessoas, tente se divertir da mesma forma. Veja como isso não muda a relação entre você e este alguém.

Quando uma pessoa reconhece que a matéria não faz distinção é que se liberta da mesma. Se libertar do chinelo não é andar de pés descalços, é usar outros chinelos, e aceitar que usem o seu próprio. É saber que o chinelo vai continuar lhe servindo, não importa o que aconteça. Desta forma amar é para sempre, possuir é momentâneo. Não se deixa de possuir, pois é o propósito da matéria, mas deve-se aceitar que outros também possuam, assim como que se possua outras.

Acho que vou deixar os instintos pra outro post.

A outra parte é decisão. Decidir o que se é (a essência vem depois da existência). Para entender que a matéria é apenas matéria, e abandonar a obsessão, não há fator externo. Tão pouco se trata de algo imutável. A sabedoria vem da própria decisão, a decisão de parar de sofrer (pelo que é material). Quem não se liberta da matéria, da obsessão, estará sempre sofrendo. Dia e noite a possibilidade de perder o material vai causar sofrimento. Decidir é o passo mais importante. Descobrir o resto é consequência natural.

Parece que eu tive que sofrer muito para aprender isto, apesar de saber o tempo todo (saber e entender são coisas bem diferentes, infelizmente). Muito sofrimento causei com minha ignorância, além de outras coisas. Entender o que eu entendo agora me traz alguma paz, afinal. Não vou mais machucar quem eu amo.

Estou mais tranquilo.

Ainda assim, o sofrimento pela perda do que eu desperdicei continua, pois não mais possuo nem a matéria nem o carinho, nem o afeto, etc. Sofro com serenidade. Mas agora eu possuo outra coisa que me impulsiona na ausência da felicidade que abandonei, outra forma de amar e ser livre, outra forma de apreciar que a matéria se compartilha, e de buscar minha felicidade de novo. Agora que eu entendo, depois de muito ter perdido, a certeza de que o amor não some, possuo algo novo, pela primeira vez: esperança.

2 comentários:

Fotos disse...

é realmente incrível e ao mesmo tempo inacreditável como a perda de alguém que amamos (ou supomos amar) gera tanto sofrimento e angústia.

Fotos disse...

tb sou de sempre tentar achar explicações para cada fato q ocorre na vida, pois dessa forma ocorre a descoberta e é possível apartir de então dominar a situação.
Ainda não tenho blog, vou deixar meu e-mail para trocas de idéia.
roalves1234@hotmail.com