quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Eis a questão (beber ou não beber)

Sempre que a dor de cabeça ataca no dia seguinte e as memórias ressurgem depois de um, muitas vezes ótimo, sonho, é comum o questionamento pós trauma das ações cometidas e das obrigações contraídas na noite (ou dia, por que não?) anterior. É uma questão mais do que financeira ou jurídica, ou fiscal (por que não?). É uma questão basicamente filosófica, mas não muito.

Quem nunca disse ou ouviu algumas verdades quando bêbado, ou quando outros estão bêbados, ou quando todo mundo está bêbado, certamente nunca saiu de casa. A desinibição do álcool é o efeito desejado, mesmo que só lá no fundo, justamente para remover a barreira de hipocrisia que faz alguém negar, ou só omitir, que está bebendo para provocar a desinibição. Ou eu estou errado, ou não acredito nisso, o que realmente não sei porque não estou, neste instante, devidamente bêbado. A questão fica sendo - frise aqui - se a desinibição é um despimento da bagagem excessiva para aflorar (ou desimpedir) a verdadeira pessoa, ou outro animal. Seria a embriaguez o único estado de consciência honesto que mostra quem realmente alguém é e o que realmente pensa?

Uma grande pensadora amiga minha defende que sim, que a bagagem de inibições é uma cobertura de mentiras que nos afasta do que ou quem somos realmente. É uma coisa que perdemos quando bebemos o suficiente, o que nos leva a um estado de verdadeiramente ser. É um argumento forte. Eu poderia escrever muito mais sobre ele, mas seria fazer o trabalho pelo leitor, e eu tenho preguiça.

Eu, por outro lado, penso que a camada de inibições é parte de quem somos e que quando ela se perde, inevitavelmente somos menos. Não é impossível e nem raro que em sendo menos podemos ser melhores, e se todos fossemos seríamos mais felizes, ponto em que concordo com ela. Entretanto, um exame profundo eu creio necessário do que é bagagem excessiva e do que é decisão de personalidade. Creio que há um ponto ideal de perda de desinibição, e que ultrapassá-lo nos torna excessivamente menos, e que alcançá-lo nos torna idealmente menos. Na medida certa.

Eu poderia discorrer mais, mas o leitor tem preguiça.

Um comentário:

Laís disse...

É um ponto de vista interessante. Mas qualquer uma das duas teorias esbarra no conceito filosófico altamente inatingível de "estado de verdadeiramente ser". E, além disso, se considerarmos a dimensão tempo o verdadeiramente ser de um indivíduo só se daria com a união dos dois estados: sóbrio hipócrita e bêbado cara-de-pau. Mas, por ora, simpatizo com a teoria dessa tua amiga grande pensadora. Até porque tal teoria justifica melhor o estado de embriaguez =D