segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Março de 2007

segunda-feira, 26 de março de 2007

Guerras Internas

Por Guilherme Alvarez

Um inconveniente do blog é que os textos em continuidade são lidos ao contrário, do último pro primeiro.

Um problema da vida, ou melhor, da vida do ser humano, é o gigantesco conflito entre o que desejamos instintivamente e o que queremos, racionalmente. Este conflito é geralmente inócuo, representando dilemas simples: satisfaço meu desejo por sorvete de caramelo ou permaneço em forma. Entretanto (note como eu gosto de usar "entretanto"), algumas vezes este conflito traz um dilema maior, mais complexo.

Devemos suprimir nossos instintos? Devemos usar apenas a razão? Quando a inexorável vontade de comer aquele chocolate se apresenta, e não estamos com fome, nunca passamos fome, somos uma geração de gordos, não passaremos fome tão cedo, devemos nos deixar levar? Complicado.

Quando éramos incipientes de razão e tudo era instinto, não havia com que se preocupar. Caçávamos e pronto. Na medida em que fomos evoluindo, como seres sociais, fomos ultrapassando as barreiras de nossos instintos. Evoluimos muito rápido. Passamos a pensar no futuro. E isto mudou tudo.

O futuro traz problemas novos ao pensamento. Planejar envolve a criação de hipóteses baseadas no que se conhece hoje, e a adoção de uma destas hipóteses como a mais adequada. É um processo complexo. Muitas vezes é impossível. A natureza é simplesmente muito vasta. Nós rapidamente passamos a ponderar nossas ações em virtude do futuro, e um conflito surgiu. Nossos instintos não estavam preparados.

Toda nossa história a partir disso é uma grande batalha entre o que desejamos instintivamente e o que queremos racionalmente. Não raras vezes estas coisas são antagônicas. Creio que o primeiro destes conflitos foi o da estocagem de alimento. Nossos instintos são bem claros: coma tudo. Nossa compulsão por comida é o medo da sua falta. Nós sabemos que não vai faltar comida. Trabalhamos e teremos comida sempre que precisarmos (os mais sortudos de nós, pelo menos). Mas nossos instintos não tomam conhecimento disso. Eles são um mecanismo automático e quase imutável. Nosso instinto nos diz para comer até o limite. E assim ficamos gordos.

Estamos constantemente controlando nossos instintos. Para comermos saudavelmente, para podermos nos curar de enfermidades, e muitas outras coisas. O problema está no limite deste controle. Quando o instinto é forte demais. Ou quando a razão é fraca demais. Nestas ocasiões não há o que fazer. O sofrimento é certo.

Creio que estes conflitos são a base de todos os problemas da humanidade. Elaborarei neste ponto outro dia.

Hoje eu preciso dormir.


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quarta-feira, 21 de março de 2007

Infinito

Por Guilherme Alvarez

Pois bem, não me sinto muito poeta agora. Por isso vou me contentar com uma prosinha. Uma prosa triste é essa que trago. Começando pelo fato de que ninguém lê minhas coisas nestas crônicas, creio, seguindo por uma porção de outros fatos, que posso escrever livremente, pois ninguém lerá mesmo.

Ou o contrário?

Estou eu escrevendo menos do que devia por ninguém estar lendo. Uma pergunta sem resposta, já que ninguém ficará sabendo dela.

Ao que interessa. Tenho perguntas que não serão respondidas a fazer.

Ao me aproximar do fim de minha adolescência, eu vejo coisas que devia ter visto antes, mas das quais fui protegido por meus genitores. A principal é a morte. Há outras, talvez mais terríveis que a morte, mas a morte é a mais definitiva.

Quando eu vi a morte pela primeira vez, e ela me tocou, foi com meu avô. Não quando ele morreu, essa foi a primeira vez que eu sofri com a morte. Era quando ele conversava com a minha vó, tomando chimarrão, e perguntava: e o fulano? Meu avô já estava no fim da vida. Já tinha sofrido dois sérios acidentes vasculares cerebrais. Tinha esquecido que alguns amigos seus já tinham morrido. Todos.

E o fulano? Faleceu. E o ciclano? Esse foi-se também. Meu avô ia perdendo o sorriso. Seus amigos se tinham todos ido embora. E ele tinha um bocado de amigos. Não sei que parte da vida desregrada de meu avô lhe conferiu a longevidade que teve. Espero encontrar também. Meu avô sempre foi alegre e festeiro. Somente a morte de seus queridos lhe tirava o sorriso, e o meu. Eu ficava muito chateado.

Foi a primeira vez que tive medo a longo prazo. Sou um cagão, é verdade. Entretanto, uma infância rica em super heróis me ensinou a enfrentar o medo para superá-lo. Perdi o medo de altura (que recuperaria mais tarde) e de cães (esse me custou um mês dentro de um gesso) dessa forma. Aprendi que o medo é uma venda, não tem nada de bom. Precaução é importante, mas não é medo. O medo tira os sentidos, o raciocínio. O medo a longo prazo foi um retrocesso imenso, penso eu. Tenho medo de sobreviver.

A pior coisa seria viver pra ver todos irem embora, viver pra contar a história. Não consigo conceber tamanho sofrimento. Se por meu avô, que estava já de saída, sofro até hoje, quanto será quando for minha avó, ou meus pais, e por último meus amigos?

Igualmente não posso me permitir morrer antes de todos. Quanto sofrimento irá isso causar?

Queria que os que amo se fossem junto comigo, daqui a muito tempo. Mas alguns preferem se acabar de uma vez. Fazer tudo que é bom e morrer não muito tarde. Não sei. Acho que não gostam muito de passar o tempo comigo. Não sei.

Depois eu falo sobre as outras coisas e sobre como acabar com o sofrimento do mundo.


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